Oficina e colagem de lambe-lambes em Conceição do Coité/BA para questionar o perfil sociocultural e econômico das pessoas abordadas pela PM

Enquanto caminhava pelas ruas movimentadas durante um dia de feira livre na cidade onde mora, Conceição do Coité, no semi-árido baiano, Iris Brito, autora da proposta, foi abordada de forma agressiva por policiais militares. Ao questionar o motivo, ouviu: “porque olhei e achei suspeita”.

“Ficaram diversas imagens na minha mente, sobretudo a minha aparência física diante dos policiais: negra, calçando um chinelo, usando top e pochete; e à minha volta uma multidão que forma um borrão sem rostos e sem voz, onde sou destacada pela cor da minha pele e estilo.”

A experiência traumática foi transformada em iniciativa de reflexão. Durante uma atividade de fotografia sobre o cotidiano periférico junto à Associação Revolution Reggae, localizada no bairro periférico de Barreiros e coordenada por Brito e Sidjonathas Araújo, os jovens logo criaram imagens das pessoas e do território.

Essas primeiras oficinas, realizadas de forma voluntária, não teve recursos para a impressão de fotografias. O edital foi a oportunidade para atuar junto a jovens que já estavam envolvidos em atividades de organização social e liberdade de expressão da associação e, ao mesmo tempo, dialogar através da arte sobre esses temas com a população local.

A intervenção visual “Não sou suspeitx” é uma colagem de lambes lambes produzidos a partir de oficinas desenvolvidas com jovens e adolescentes de comunidades periféricas. As colagens visam questionar o perfil sócio-cultural e econômico das pessoas abordadas pela Polícia Militar ou discriminadas por parte da mídia e da opinião pública durante protestos e manifestações e na vida cotidiana. A iniciativa é uma maneira de reafirmar o direito de presunção à inocência que é negado a corpos não-brancos e LGBTs, sobretudo quando estão fora do padrão eurocêntrico e hétero-cis-normativo de interagir e de se vestir.